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LINHA DO TEMPO
Texto escrito por Luiz Marques em comemoração aos 50 anos da Osesp, comemorados em 2014.
 
Eleazar de Carvalho no festival de Campos de Jordão, em 1984

        Corria o ano do Quarto Centenário de São Paulo, efeméride que a cidade, em desenfreado crescimento, pretendia comemorar com pompa e circunstância. O cineasta Lima Barreto realizou seu documentário São Paulo em Festa e foram inaugurados nada menos que o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, o obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, de Galileo Emendabili, a nova Catedral da Sé e a restauração do Pátio do Colégio. É nesse contexto que se deve entender a criação da Orquestra Sinfônica Estadual, primeira denominação da nossa Osesp.
        Embora já estivesse em funcionamento desde 1953, sua certidão de nascimento foi lavrada pela Lei no 2733 e promulgada pelo governador Lucas Nogueira Garcez em 13 de setembro de 1954. O primeiro regente titular da “Estadual” foi o pianista, maestro e compositor João de Souza Lima (1898-1982), figura onipresente do Novecentos musical brasileiro, amigo de Villa-Lobos e Darius Milhaud. Sua experiência como regente já se firmara à frente da Orquestra da Rádio Tupi e da Orquestra da Rádio Gazeta, às quais chegara pelas mãos, respectivamente, de Assis Chateaubriand e Cásper Líbero.
        Na banca das primeiras audições, estavam figuras como Camargo Guarnieri e Eleazar de Carvalho, que selecionaram um contingente inicial de 56 instrumentistas, dentre os quais alguns nomes que marcariam a história da música no Brasil: Nathan Schwartzmann (spalla), George Olivier Toni, Yoshitame Fukuda, João Dias Carrasqueira e os irmãos Régis e Rogério Duprat. No dia 18 de julho de 1953, a orquestra realizou seu primeiro concerto, no Theatro Municipal de São Paulo, com participação do célebre pianista Alexander Brailowsky. Com ensaios regulares, o grupo se apresentou pelo menos mais quatro vezes, ainda naquele mesmo ano.
Apesar de a orquestra ter sido criada por lei, os concertos de 1953 não tiveram continuidade no ano seguinte.              Nem mesmo a mobilização dos músicos, recebidos em audiência pelo governador, foi suficiente para garantir a manutenção do projeto.
   É preciso um salto de dez anos para reencontrar a orquestra novamente em atividade. Em 1964, ela foi praticamente recriada. O maestro Bruno Roccella tornou-se seu novo regente e diretor artístico. Nascido em Pozzuoli, uma província de Nápoles, em 1936, mudou-se para o Brasil aos doze anos e naturalizou-se brasileiro em 1960. Filho do maestro Giovanni Roccella, um dos fundadores do Conservatório Carlos Gomes, em Campinas, o músico mora em São Paulo até hoje e segue dando aulas e orientando cantores líricos. O maes- tro assistente era Marcelo Mechetti – pai de Fabio Mechetti, atual regente da Filarmônica de Minas Gerais.
   Cerca de quatro anos de atividade compuseram este segundo capítulo da história de nossa orquestra. Com um contingente de 81 músicos, entre os quais Benito Juarez e José Eduardo Gramani, a orquestra apresentou-se pelo menos 22 vezes na capital e 38 vezes no interior do estado. Em 1967, às vésperas de outra longa hibernação, um evento memorável: Camargo Guarnieri rege a Estadual na interpretação do seu extraordinário Concerto nº 3 Para Piano (1964), com a solista Laís de Souza Brasil (a quem ele dedicaria seu Concerto nº 5).
     Em 1973, após um recesso de mais de cinco anos, a Estadual passa por nova reestruturação, conduzida pelo célebre maestro Eleazar de Carvalho (1912-96). O segundo renascimento da orquestra é indissociável do Festival de Campos de Jordão, concebido por Eleazar nos moldes do Festival de Verão de Tanglewood (Massachusetts, EUA), que ele conhecia a fundo. Entre 1947 e 1973, Eleazar fora regente e diretor musical de várias orquestras no Brasil e nos Estados Unidos: a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica do Recife, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e a Saint Louis Symphony. Responsável por aulas de regência na Hofstra University e na Juilliard School, respectivamente no estado e na cidade de Nova York, Eleazar fora professor de Claudio Abbado, Charles Dutoit, Zubin Mehta e Seiji Ozawa.
     Em 1975, a orquestra atravessou mais uma grande crise, superada graças à mobilização da comunidade musical e de um abaixo-assinado de iniciativa de Olivier Toni, com mais de duzentos assinaturas, entre as quais as de Guiomar Novaes, Ruy Mesquita, Caio Pagano e Leon Spierer, spalla da Filarmônica de Berlim.
      Em 1978, o conjunto tomou enfim seu nome atual: Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. No início dos anos 1980, fazendo um balanço de seu primeiro decênio de atividade, Eleazar escreveu: “Durante essa década de trabalho, a Osesp somou um nome que a projeta como uma das maiores instituições de cultura artística do Estado de São Paulo e uma das melhores orquestras sinfônicas brasileiras”.
     Depois de temporadas memoráveis no Teatro Cultura Artística, a orquestra viu-se em situação muito precária: sem sede adequada, sem recursos e com o salário de seus músicos muito reduzido. Malgrado tudo, o empenho do maestro não arrefeceu: programou o ciclo completo das Sinfonias de Beethoven e, por três vezes, o monumental ciclo das Sinfonias de Mahler. Em 1987, no auge da crise, Eleazar mais uma vez superou as adversidades para celebrar com a Osesp o centenário de nascimento de Heitor Villa-Lobos.1
 

Maestro Eleazar de Carvalho

      Em 1996, Eleazar deu início à integral das Sinfonias de Bruckner, vindo a morrer pouco após reger a Sinfonia nº 4. O velório teve lugar no Theatro Municipal de São Paulo. Em seu emocionado discurso de despedida, Gilberto Siqueira, trompetista da Osesp desde 1973, lembrou que “o maestro não tinha conseguido ver realizado seu maior sonho: ter um lugar para a orquestra crescer e florescer”. O governador Mário Covas estava presente e, a partir daquele momento, não abandonou a ideia da criação de uma sede própria e da reestruturação da orquestra.
        Em 1997, a convite de Marcos Mendonça, então secretário de Estado da Cultura, John Neschling conduziu o processo de reestruturação, pautado pelas diretrizes formuladas por Eleazar. Estas incluíam, além da nova sede, melhores salários para os músicos – dos quais se esperava uma reavaliação mediante concurso interno. Dos 97 instrumentistas, 68 aceitaram fazer os testes e 44 foram aprovados, entre os quais os dois primeiros clarinetes, os oboés, uma primeira flauta, uma primeira trompa, os trompetes, os trombones, seis contrabaixos, a primeira viola, o spalla e o naipe de percussão. Vinte e seis músicos foram contratados em Nova York, Paris, Bucareste e Sófia. A banca desses concursos internacionais era composta por Roberto Minczuk, maestro assistente da Osesp, e membros de orquestras como a Filarmônica de Viena e a Gewandhaus de Leipzig, além de solistas como o violoncelista Antonio Meneses e o violinista Régis Pasquier.
      São Paulo deve a magnífica sede da Osesp ao governador Mário Covas, que a inaugurou em 9 de julho de 1999. O projeto da reforma da Estação Júlio Prestes foi de Nelson Dupré, que, com a colaboração da empresa nova-iorquina Artec, especializada em acústica, realizou o impensável: transformou uma ruidosa estação de trem em uma das mais elogiadas salas de concertos do mundo: a Sala São Paulo. Em uma noite memorável, a orquestra interpretou a Sinfonia nº 2, de Mahler, cujo título, Ressurreição, era uma óbvia referência ao momento.
     Claudia Toni assumiu a direção executiva da orquestra em 1998 e foi responsável pela estruturação do funcionamento operacional (até 2002). Foram criados o Centro de Documentação Musical Eleazar de Carvalho, coordenado durante mais de dez anos por Maria Elisa (Milly) Pasqualini – hoje em dia dirigido pelo maestro Antonio Carlos Neves –; e a editora de partituras Criadores do Brasil, que promove a recuperação e a publicação do repertório musical brasileiro – do Hino Nacional às Sinfonias de Villa-Lobos, passando pelas dezenas de obras encomendadas anualmente pela própria Osesp. 
 O Serviço de Assinaturas, criado em 2000 sob coordenação de Eneida Monaco, imediatamente ganhou a adesão de mais de dois mil ouvintes apaixonados – número que de lá pra cá multiplicou-se por cinco.
  John Neschling e Roberto Minczuk realizaram importantes gravações com a Osesp, como a integral das Sinfonias de Camargo Guarnieri e dos Choros e Bachianas, de Villa-Lobos, lançadas no Brasil pela Biscoito Fino e, no mercado internacional, pelo selo sueco BIS. Com esses registros, a Osesp começava a documentar musicalmente a nova fase de sua história.
Como publicou a revista Gramophone em reportagem de dezembro de 2008, “nos doze anos em que esteve à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Neschling elevou o grupo a níveis internacionais, tornando-o reconhecido pela crítica internacional como uma das orquestras a serem notadas entre as melhores do mundo”.
      Antes disso, em 2005, fora dado um importantíssimo passo na história da orquestra, com a criação da Fundação Osesp, seguindo o novo modelo de Organização Social. Presidida por Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, a Fundação tem contrato quinquenial (já renovado) com o Governo do Estado para a gestão de todas as atividades da Osesp e da Sala São Paulo, e se tornou referência de administração cultural para muitas outras instituições no país.2      
    A partir desse momento, cabe ressaltar também o trabalho de Marcelo Lopes, que assumiu a direção executiva. Economista e advogado, além de trompetista veterano da Orquestra, ele era a figura talhada para isso. Afinal, o diretor executivo de uma instituição como a Osesp deve ser não apenas proficiente em administração, economia e direito, mas também em música – e conhecer as prioridades artísticas e necessidades práticas do conjunto. Ao longo dos últimos oito anos, Marcelo Lopes tem conduzido a orquestra com competência e fibra, contornando as dificuldades com ânimo e guiando a Osesp sempre à frente.
    Após a saída do maestro John Neschling, em janeiro de 2009, abriu-se para a orquestra um momento importante de transição. Consoante o consenso do Conselho Diretor, fortalecido por seus consultores internacionais – Timothy Walker (diretor da Filarmônica de Londres) e Henry Fogel (reitor da Faculdade de Artes da Universidade de Roosevelt, em Chicago, ex-presidente da Liga das Orquestras Americanas e ex-diretor da Sinfônica de Chicago) –, era chegada a hora de contratar um regente internacional, capaz de conferir ímpeto à já crescente projeção da Osesp fora das fronteiras nacionais. Baseada em muita pesquisa e nas indicações de um comitê de busca formado especialmente para a ocasião, a escolha para assumir interinamente o posto de regente titular recaiu sobre Yan Pascal Tortelier, não por acaso um dos nomes mais votados pelos músicos da orquestra.
     Pertencente a uma família de músicos, o maestro Tortelier é filho de Paul Tortelier (1914-90), mestre legendário do violoncelo. Depois de uma longa carreira como virtuose do violino, Tortelier acumulou enorme experiência como regente titular e diretor artístico da Ulster Orchestra (1989-92), regente titular da Sinfônica de Pittsburgh (2005-8) e regente titular da Filarmônica da BBC (1992-2003), da qual é hoje regente laureado, título ao qual se associa o de principal regente convidado da Royal Academy of Music, de Londres.
     Entre 2009 e 2011, Tortelier contribuiu de maneira significativa para a confirmação mundial da Osesp, liderando-a na turnê europeia de 2010, que incluiu apresentações em Salzburgo e na Musikverein, em Viena, e realizando gravações para os selos Biscoito Fino e Chandos. Tortelier segue como regente convidado de honra até o final de 2013 e, em 2014, será responsável pela gravação, com a Osesp, da obra completa para piano e orquestra de Stravinsky para o selo Chandos, tendo Jean-Eff lam Bavouzet como solista.
 
Osesp no jardim da Sorocabana, onde atualmente é a sala de concertos

          A atuação do maestro foi complementada pela do diretor artístico da orquestra, a quem estão confiadas a elaboração conceitual e prática da programação, a promoção de suas gravações e a interação com outras orquestras e com compositores contemporâneos, além da direção de sua atividade editorial e da comunicação com a sociedade e com outras instituições de cultura. Este conjunto de responsabilidades foi assumido em 2010 pelo músico, professor, escritor e crítico musical Arthur Nestrovski. O dinamismo e o entusiasmo de Nestrovski põem em valor uma sólida formação ao mesmo tempo musical, literária e acadêmica, obtida nas Universidades de York, na Inglaterra (Bachelor of Arts), e de Iowa, nos Estados Unidos (Ph.D.). Entre os méritos maiores de sua atividade, destaca-se uma percepção amadurecida das possibilidades de intersecção entre a música e outras esferas da vida cultural.
      Outras iniciativas importantes marcaram a transição para a atual situação da Osesp. Em 1999, o Coral Sinfônico do Estado – sempre sob a regência de Naomi Munakata – teve suas estruturas integradas às da orquestra, passando em 2001 a se chamar Coro da Osesp. Foram também criados os coros de Câmara,3 Juvenil e Infantil, além dos Programas Educacionais – que hoje atingem nada menos do que 120 mil crianças e adolescentes e cerca de 1.000 professores, majoritariamente da rede pública de ensino – e da Academia de Música, com 20 jovens instrumentistas, a quem se somam os 20 jovens cantores do Coro Acadêmico4 a partir de 2013. A missão desta última, criada em 2007 à imagem das academias das orquestras de Viena e de Berlim, é a formação de alto nível de músicos que comporão a massa crítica para as orquestras sinfônicas brasileiras e que fornecerão também instrumentistas para a própria Osesp.
     A partir de 2012, a nova-iorquina Marin Alsop assumiu a posição de regente titular da Osesp, cargo ao qual acrescenta hoje o de diretora musical. Marin vem de uma família de músicos e é formada pela Universidade de Yale. Discípula de Leonard Bernstein, seu nome se projetou internacionalmente ao vencer em 1989 o prestigiado Koussevitzky Conducting Prize, do Tanglewood Music Center. Em 2003, foi a primeira artista a receber, no mesmo ano, o Conductor’s Award, da Royal Philharmonic Society, e o título de Artista do Ano, da revista Gramophone. Em 2005, foi a primeira regente a receber a prestigiosa bolsa da Fundação MacArthur.
     Em 2007, tornou-se regente e diretora musical da Sinfônica de Baltimore, uma das grandes orquestras norte-americanas, com um contrato renovado que se estende até a temporada de 2020-21. Em 2008, foi eleita fellow da American Academy of Arts and Sciences. Sua carreira floresceu igualmente fora dos Estados Unidos, notadamente no Reino Unido, à frente de orquestras como a Sinfônica de Londres e a Sinfônica de Bournemouth, de que foi regente titular de 2002 a 2008. Recentemente, em setembro de 2013, foi ela a primeira mulher a reger a BBC Symphony Orchestra e solistas na “Last Night of the Proms”, celebrado evento de encerramento do mais importante festival de música da Europa, transmitido por rádio, internet e TV ao redor do mundo.
     Sobre o indefectível comentário a respeito de seu pioneirismo como mulher em tantas conquistas e honrarias, Marin tem uma frase lapidar: “Sinto-me muito orgulhosa, mas também acho deplorável que estejamos no século XXI ainda comemorando as ‘primeiras vezes’ para as mulheres”.
Atualmente, Marin Alsop fica de 13 a 15 semanas por ano no Brasil, o mesmo tempo que dedica à Sinfônica de Baltimore. Em parceria com ela, a Osesp alcançou o que se pode considerar um novo patamar de prestígio internacional. Em 2012, a orquestra apresentou-se com Nelson Freire no Festival BBC Proms, num histórico concerto no Royal Albert Hall, assistido por seis mil ouvintes e retransmitido pela BBC para toda a Europa. No mesmo ano, apresentou-se, com Antonio Meneses, no Concertgebouw de Amsterdã.
     Em outubro de 2013, Marin regeu a Osesp numa turnê de 15 concertos, incluindo primeiras apresentações na Salle Pleyel de Paris, no Royal Festival Hall, de Londres, e na espetacular Berliner Philharmonie, sede da Filarmônica de Berlim. Para o selo Naxos, a orquestra está gravando com Marin a integral das Sinfonias de Prokofiev e, sob a batuta de Isaac Karabtchevsky, a integral das Sinfonias de Villa-Lobos.
Este prestígio internacional é uma via de mão dupla, pois se reflete igualmente no número de excepcionais artistas, regentes e solistas que incluem a Sala São Paulo em suas temporadas. Em 2013, a programação da Osesp teve a participação de nada menos que 85 regentes e solistas con- vidados, dentre os mais prestigiados no cenário nacional e internacional; e, para 2014, a perspectiva é a mesma, confirmando a estatura atingida.
        Ao lado de Marin, o regente associado da Osesp, Celso Antunes, assume anualmente a responsabilidade por dois programas de assinatura, além de um programa com a Orquestra de Câmara e um programa do Coro, terreno de sua predileção. Formado como regente na Musikhochschule de Colônia, Antunes é professor de regência coral da prestigiosa Haute École de Musique de Genebra. Foi regente titular da Nova Orquestra de Câmara da Renânia (1994-8), do Coro da Rádio da Holanda (2008-12) e do conjunto belga de música contemporânea Champ d’Action (1994-7), além de diretor artístico e regente titular do National Chamber Choir, da Irlanda, entre 2002 e 2007, anos considerados pelo Irish Times como “uma idade de ouro para o canto profissional na Irlanda”.
    Alsop, Antunes e Nestrovski compartilham uma particular afinidade com a música do nosso tempo, em suas muitas vertentes. Como diretor artístico, Arthur Nestrovski encomenda todos os anos pelo menos seis obras a compositores brasileiros, sejam elas para orquestra, quarteto ou coro.

     Em 2012, Marin Alsop estreou a primeira encomenda internacional da Osesp: Magnetar – Concerto Para Violoncelo Elétrico e Orquestra, do compositor mexicano Enrico Chapela. A partir de então, além das encomendas a compositores brasileiros, a Osesp passou a desenvolver também encomendas internacionais, em associação com outras orquestras. Assim, em novembro de 2013, Lera Auerbach, jovem compositora russa radicada em Nova York, estará na estreia latino-americana de Post Silentium, uma encomenda em parceria com a Staatskapelle Dresden. Para os 60 anos da Osesp, a enco- menda, em conjunto com as sinfônicas de Sydney, Baltimore e da Northwestern University, foi feita ao grande compositor norte-americano John Adams, que criou um concerto para saxofone e orquestra.
        Não foi por acaso que uma enquete com internautas no blog sobre música clássica do crítico Norman Lebrecht situou a Osesp em quarto lugar entre as dez orquestras de maior destaque no ano de 2012. Eis uma realidade que talvez supere os mais tresloucados sonhos de Eleazar de Carvalho. O termo que define essa realidade é maturidade artística, que significa saber beneficiar-se de sua memória e de suas condições atuais de trabalho. Clareza, equilíbrio entre os naipes, potência dos tutti, musicalidade de fraseado, vitalidade e sustentação do ritmo, perfeitos uníssonos das cordas e, sobretudo, o virtuosismo de cada músico são as evidências dessa maturidade. O resultado é o desfrute de uma sonoridade própria – uma maneira Osesp, internacionalmente reconhecida, de interpretar seu já imenso repertório.
Mas a Osesp é tanto uma orquestra sinfônica, com tudo o que isso comporta de especialização, quanto uma usina a serviço da cultura em São Paulo. Marcelo Mattos Araújo, secretário de Estado da Cultura, ressaltou recentemente a relevância social desse trabalho, ao afirmar que “como corpo estável mantido pelo Governo de São Paulo, a Osesp faz um trabalho educativo importantíssimo para a formação de plateias, buscando atrair cada vez mais um público novo e diversificado para as salas de concerto e teatros do estado”.
     Nada menos que 62% do público da Osesp não paga ou paga até 15 reais por ingresso. Aos domingos de manhã, a orquestra e seus parceiros oferecem concertos gratuitos, sem falar que, a cada temporada, todos os seus programas sinfônicos são transmitidos pela Rádio e pelo menos uma dezena pela TV Cultura também, além de serem acessíveis via internet, assim como suas gravações pelo selo digital Osesp. Desde 2008, o programa Osesp Itinerante leva música da mais alta qualidade a uma série de cidades do interior do estado. Em 2013, os programas educativos da Fundação Osesp acolheram mais de 120.000 crianças e adolescentes e cerca de novecentos professores das redes pública e privada. Seguem florescendo, enfim, suas demais atividades: o Centro de Documentação Musical Eleazar de Carvalho, os Programas Educacionais, a Academia da Osesp e a editora Criadores do Brasil, as entrevistas para o novo Acervo Osesp de História Oral, os encontros pelas séries “Música na Cabeça” e “Falando de Música” e as edições da Revista Osesp.

Concerto da Osesp com Marin Alsop e Nelson Freire no Festival BBC Proms, Royal Albert Hall (Londres), 2012

        A força dessa instituição repousa sobre um tripé. Em primeiro lugar, uma estrutura institucional que serve de modelo para a gestão da cultura no país. Ela é assegurada pela Fundação Osesp, que hoje tem à frente de seu Conselho de Administração Fábio Colletti Barbosa, presidente da Abril S.A.5 A chegada de Barbosa foi acompanhada pela criação de um Conselho de Orientação,6 encarregado de indicar 55% dos membros do Conselho de Administração e cuja mais alta missão é zelar pela continuidade do projeto e pela manutenção de sua identidade. Em 2013, Fernando Henrique Cardoso tornou-se presidente de honra da Fundação Osesp.
O segundo elemento do tripé sobre o qual se assenta o sucesso da Osesp é a diretoria executiva, a cargo do já citado Marcelo Lopes, que pilota efetivamente o navio, empregando seus recursos da maneira mais eficiente. Administra hoje uma instituição com recursos públicos e privados, empregando cerca de 420 pessoas entre funcionários administrativos, técnicos, músicos e bolsistas.
     O terceiro elemento, naturalmente, é a dupla formada pelas direções artística e musical, a cargo de Arthur Nestrovski e Marin Alsop, com suas equipes. Em conjunto, lideram a orquestra com entusiasmo, sensibilidade e profundo saber artístico, abrindo-lhe incessantemente novas perspectivas de trabalho e de aperfeiçoamento. Seu grande desafio é jamais se permitir deitar sobre os louros, mas aprofundar a relação da orquestra com seu contexto local e nacional, além de trabalhar para que ela ocupe uma posição cada vez mais expressiva na cena musical internacional.
     Nesse tripé se assenta a estrutura administrativa e artística da instituição. Mas os grandes protagonistas do sucesso da Osesp são, evidentemente, seus músicos, o coração pulsante da orquestra. Sem eles, a mágica não acontece. Toda a equipe de profissionais e beneméritos acima nomeada existe apenas e tão somente em função deles. São eles que, na prática, escrevem a história da Osesp. E ninguém mais que esse corpo maravilhoso de músicos merece colher, junto com seu público, os frutos dessa história. 

Luiz Marques
Professor do departamento de História da UNICAMP e coordenador do MARE - Museu de Arte Para a Pesquisa e a Educação.
 
 
1 Pessoalmente, presenciei dois ensaios abertos do maestro e posso apenas dizer que a maneira severa (e não sem humor) como infundia energia à sua orquestra é algo inesquecível.
2 Os membros instituidores da Fundação Osesp foram: Fernando Henrique Cardoso, Pedro Moreira Salles, Alberto Dines, Carlos Rauscher, Horácio Lafer Piva, John Neschling, José Ermirio de Moraes Neto, Luiz Schwarcz, Marcelo Lopes, Pedro Malan, Pérsio Arida e Rubens Barbosa.
3 Em 2013, os Coros foram unificados no Coro da Osesp.
4 A aréa educativa desde 2012 está a cargo de Rogério Zaghi. O Coro Infantil está sob os cuidados de Teruo Yoshida, o Coro Juvenil é comandado por Paulo Celso Moura, e o Coro Acadêmico é dirigido por Marcos Thadeu.
5 O Conselho de Administração é composto por Fábio Colletti Barbosa (Presidente), Heitor Martins ( Vice-Presidente), e pelos Conselheiros: Alberto Goldman, Antonio Quintella, Eliana Cardoso, Helio Mattar, José Carlos Dias, Lilia Moritz Schwarcz, Manoel Corrêa do Lago e Sávio Araújo (representante dos funcionários).
6 O Conselho de Orientação é composto por Fernando Henrique Cardoso (Presidente), Pedro Moreira Salles, Horacio Lafer Piva e José Ermírio de Moraes Neto.