JOHANN SEBASTIAN BACH [1685-1750]
A Arte da Fuga, BWV 1080: Excertos [1742-46]
CONTRAPUNCTUS I
CONTRAPUNCTUS II
CONTRAPUNCTUS III
CONTRAPUNCTUS IV
CONTRAPUNCTUS IX
16 MIN
JANUIBE TEJERA [1979]
Pêndulo – Parergon (Homenagem a Claudio Santoro) [2019]
[CLAUDIO SANTORO 100] [ENCOMENDA OSESP]
12 MIN
/INTERVALO
FRANZ SCHUBERT [1797-1828]
Quinteto de Cordas em Dó Maior, D 956 [1828]
ALLEGRO MA NON TROPPO
ADAGIO
SCHERZO: PRESTO
ALLEGRETTO
50 MIN
JOHANN SEBASTIAN BACH
A Arte da Fuga: Excertos
É significativo e simbólico abrir o primeiro concerto da temporada do Quarteto Osesp com uma seleção de A Arte da Fuga de J. S. Bach: talvez a obra mais extraordinária já concebida por qualquer compositor. A partir de um simples sujeito — como é chamado o tema principal em uma fuga —, os vários Contrapunctus — fugas que compõem a obra – aventuram-se por caminhos que não deixam de surpreender ainda hoje, quase 300 anos depois.
Trata-se de uma obra tão essencial que não está necessariamente vinculada a uma instrumentação específica, podendo adaptar-se a vários conjuntos instrumentais. Dentre essas possibilidades, o quarteto de cordas é uma formação ideal, pois a maioria das fugas d’A Arte da Fuga é a quatro vozes: os quatro instrumentos permitem explorar e fazer dialogar essas vozes.
No concerto de hoje serão apresentados os primeiros quatro Contrapunctus e o de número IX. Os primeiros três são fugas simples a quatro vozes. O quarto possui também quatro vozes, mas se baseia no sujeito invertido das primeiras três fugas, enquanto o brilhante e virtuosístico no IX apresenta uma fuga com dois sujeitos.
EMMANUELE BALDINI
Spalla da Osesp desde 2005, integra o corpo docente da Academia da Osesp, o Quarteto Osesp e o Trio Arqué. Em 2017 assumiu também a direção musical da Orquestra de Câmara de Valdivia, no Chile.
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JANUIBE TEJERA
Pêndulo - Parergon (Homenagem a Claudio Santoro)
Em seu escritos, o pintor Mark Rothko [1903-79] descrevia o quanto lhe impressionavam as bordas nos quadros de Cézanne [1839-1906]. Essas bordas teriam algo de pulsátil, e seriam quase suficientes para serem o sujeito do quadro — de fato foi isso o que fez Rothko. Essa atenção dada ao fragmento, ao detalhe enquanto sujeito principal, desloca o olhar para a beira, e demonstra o elo entre o ornamental e a estrutura. A organização estrutural permite dispor e colocar elementos no espaço, mas é o ornamental que intensifica cada instante. O ornamental aproxima a observação e a observação localizada traz uma outra temporalidade, pela atenção que lhe proporcionamos. Poderíamos assim deslocar nossa escuta para essas bordas de Cézanne, isto é, deslocar a escuta para o início de cada som, para como ele surge, ou termina, e para os ruídos parasitas a cada ação.
Em diversas práticas musicais pelo mundo, tais como o butô ou o flamenco, essas bordas são ornamentadas, e assim direcionam a escuta por seus ritmos, vibrato ou acentos finais. A ornamentação impõe a impossibilidade da real repetição, transmuta o comum em singular, o reconhecível em único. Talvez seja através de um processo de re-observação que possamos descobrir esses detalhes. Trata-se de deslocar a escuta da borda para o centro.
JANUIBE TEJERA
Natural de Salvador, tem obras executadas por prestigiosos grupos dedicados à música contemporânea, em festivais na Europa e na América. Agraciado com diversas premiações, é professor de composição na Universidade Paris-Est e no Conservatório de Bagnolet (França).
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FRANZ SCHUBERT
Quinteto de Cordas em Dó Maior, D. 956
Última obra de câmara de Schubert, terminada somente dois meses antes da sua morte, o Quinteto para Cordas é uma das mais extraordinárias obras de todo o repertório camerístico. Resultado do último rico período de vida o compositor, foi composto juntamente com as últimas três Sonatas Para Piano e as canções do ciclo Schwanengesang [Canto do Cisne]. É curioso, e também triste, que ao oferecer a publicação da obra a um possível editor, a resposta tenha sido um frio pedido de peças populares para piano e/ou para voz e piano. A verdade é que, até sua morte, Schubert foi muito subestimado como compositor orquestral e camerístico, suscitando algum interesse somente como autor de canções e curtas peças para piano. Quanta obtusidade por parte dos experts da época, que quase lembram alguns experts de hoje em dia...
O traço característico do primeiro movimento é uma exploração de modulações e de mudanças harmônicas muito sofisticadas e ousadas, que não deixam nunca esmorecer a tensão e a atenção, apesar de suas amplas proporções.
O segundo movimento é um dos raros Adágios de Schubert (que usava mais frequentemente Andante ou Allegretto em seus movimentos lentos) e pode ser considerado o ponto de maior inspiração do Quinteto. O grande pianista Arthur Rubinstein [1887-1982] o considerava “a obra” para ser levada a uma ilha deserta, mesmo sendo ele pianista. (Rubinstein sabia tocar de cor o movimento inteiro, numa adaptação feita por ele mesmo.) Permitam-me um pequeno parêntese pessoal: a última execução desse Quinteto, com o Quarteto Osesp e Antonio Meneses, alguns anos atrás, ficou gravada na minha memória como um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida profissional, e esse segundo movimento foi o motivo principal desse feito.
Os últimos dois movimentos são (creio que intencionalmente) mais “sinfônicos”, em claro contraste com a intimidade poética do segundo. No último, que lembra um pouco o Quinteto em Dó Maior de Mozart, percebe-se uma clara influência húngara, algo que já estava interessando Schubert, assim como mais tarde influenciaria Brahms.
EMMANUELE BALDINI
Spalla da Osesp desde 2005, integra o corpo docente da Academia da Osesp, o Quarteto Osesp e o Trio Arqué. Em 2017 assumiu também a direção musical da Orquestra de Câmara de Valdivia, no Chile.