Em 2019, o Festival de Inverno de Campos do Jordão chega à sua 50ª edição e a Sala São Paulo comemora 20 anos. Administrados pela Fundação Osesp, um e outro tiveram e têm papel muito importante no cenário musical brasileiro.
Impossível subestimar a relevância do Festival para a formação das últimas três, senão já quatro gerações de músicos. Basta pensar na Osesp: a imensa maioria, quase a totalidade, mesmo, dos brasileiros da Orquestra (cerca de 2/3 do total) já foi bolsista ou professor; o mesmo vale para a galeria de solistas nacionais de destaque, à qual se deve acrescentar grande quantidade de alunos, orquestras, conjuntos, solistas e professores convidados, do Brasil e do exterior, que estiveram no Festival, reconhecido hoje como o maior da América Latina.
Já a Sala São Paulo é consagrada por suas virtudes acústicas e arquitetônicas. Quem frequentava a temporada local de concertos antes de julho de 1999 pode confirmar que a mudança a partir daquela data foi da maior consequência, não só para a Osesp, mas também inúmeras outras orquestras e instituições. A simples organização de uma temporada de concertos, com programas definidos para o ano inteiro e venda de assinaturas, já significou considerável evolução; e isso só foi possível porque existe a Sala. O privilégio de ensaiar e tocar em tal espaço também merece realce: para os instrumentistas e cantores da Osesp, a Sala é uma verdadeira parceira musical, à altura de seu talento.
Não há maior prova da diferença que fez a inauguração da Sala São Paulo do que a qualidade dos jovens músicos da Orquestra do Festival. De repente, cai a ficha: eles têm agora a idade dela, cresceram ouvindo concertos ali. São eles, cada um e juntos, os melhores futuros do nosso passado, e o mais eloquente exemplo de até onde se pode chegar, quando aos projetos é garantida continuidade.
Festival e Sala serão devidamente comemorados, em ocasiões especiais no mês de julho e com publicações contando sua história. Este ano abriga, ainda, a última temporada de Marin Alsop como Diretora Musical da Osesp, depois do que ela se
tornará nossa Regente de Honra. Não terá sido pouco o que foi conquistado nestes oito anos com Marin. A começar pelo desenvolvimento técnico e artístico do grupo, trabalho perpetuamente in progress; e a continuar pela expansão do prestígio da Orquestra, tanto nacional quanto internacionalmente, o que também contribui para assegurar a qualidade das nossas temporadas em São Paulo, atraindo sempre os melhores artistas.
Não poderia haver melhor modo de celebrar esse período do que com a Nona Sinfonia, no encerramento. Os concertos integram um projeto capitaneado pelo Carnegie Hall (Nova York), envolvendo oito outras orquestras ao redor do mundo, por ocasião — em 2020 — dos 250 anos de nascimento do compositor. O projeto será inaugurado aqui, com a sempre necessária “Ode à Alegria” cantada em português e a música de Beethoven emoldurada por autores brasileiros, repercutida ainda numa ação com crianças e adolescentes da rede pública de ensino.
Como de hábito, receberemos muitos grandes nomes e ouviremos música dos mais variados estilos e mais diversos períodos, da Idade Média aos dias de hoje, interpretada pelos queridos membros da Osesp, do Coro da Osesp e dos Coros Infantil, Juvenil e Acadêmico, pelo Quarteto Osesp e por alunos da Academia da Osesp, e ainda por alguns dos solistas que vêm tocar conosco, como o Artista em Residência, Paulo Szot.
Antes do início oficial da Temporada, vamos apresentar e gravar um primeiro volume de Choros de Camargo Guarnieri, com a Orquestra regida por Isaac Karabtchevsky e tendo chefes de naipe da Osesp como solistas.
Cada Temporada é um universo de música, com mil e uma tramas de sentido, a serem exploradas concerto após concerto, semana após semana. A música não tem fim. Nós, enquanto estamos com ela, também não.
De um ponto de vista mais pessoal, a Temporada será também a décima sob responsabilidade desta Direção Artística. Olhando o longo tempo em retrospecto, dá para confessar orgulho do quanto foi possível realizar, em parceria com centenas de pessoas — músicos, Marin e demais regentes da casa, Conselho, todas as equipes da Fundação Osesp e de instituições irmãs, com destaque para a Secretaria de Estado da Cultura —, todas elas, afinal, dedicadas não só ao projeto da Osesp em si, mas ao que ele representa no contexto brasileiro. Tudo feito, é claro, para o caloroso público, que nos prestigia seja na Sala, seja à distância, nas transmissões radiofônicas e televisivas, em parceria com a Rádio e TV Cultura, e ainda nos concertos digitais, nas redes sociais, nos podcasts e no acervo (gratuito) do Selo Digital Osesp.
O mínimo que se pode dizer, conhecendo nossa história, é que tudo o que se passou, tanta coisa que se sabe hoje tão significativa, poderia muito bem nem ter acontecido. Neste contexto, em especial face às dificuldades do momento, no Brasil e ao redor do mundo, o papel que nos cabe, antes de mais nada, é garantir que o futuro não seja menor do que o passado. O que também implica pensar e agir, como há 50 ou 20 anos, não só da perspectiva do presente, mas de outros tempos que lhe serão consequência, quando o passado formos nós.
Por trás de tanto empenho, o que nos move é um ideal (de país) e uma paixão (pela Osesp). Mais que uma paixão, na verdade; a palavra é arriscada, mas o que nos move é o amor: amor pela música. Nunca foi menos que isso o que nos manteve aqui. E nunca menos que isso que se espera, nos futuros que virão.
ARTHUR NESTROVSKI
Diretor Artístico da Osesp
Crédito da obra:
Mauro Restiffe.
São José do Rio Pardo, SP, 1970
Álbum (Belvedere, 2009)
Parte de álbum, 1996-2017
Oilípticode 73 fotografias em emulsão de prata sobre o papel fibra
Dimensões variáveis
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Doação do artista - em processo |