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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
22
mar 2018
quinta-feira 20h30 Jacarandá
Temporada Osesp: Alsop e Lugansky


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Nikolai Lugansky piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Ludwig van BEETHOVEN
Abertura Leonora nº 3, Op.72b
Concerto nº 4 Para Piano em Sol Maior, Op.58
Sinfonia nº 3 em Mi Bemol Maior, Op.55 - Eroica
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  QUINTA-FEIRA 22/MAR/2018 20h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827] /AS NOVE SINFONIAS

Abertura Leonora nº 3, Op.72b
14 MIN

 

Concerto nº 4 Para Piano em Sol Maior, Op.58

ALLEGRO MODERATO
ANDANTE CON MOTO
RONDO: VIVACE

34 MIN

 

Sinfonia nº 3 em Mi Bemol Maior, Op.55 - Eroica

ALLEGRO COM BRIO
MARCHA FUNEBRE: ADAGIO ASSAI
SCHERZO: ALLEGRO VIVACE
FINALE: ALEGRO MOLTO

47 MIN


Beethoven é a personificação do herói romântico, que enfrenta com destemor as vicissitudes da vida. O temperamento sorumbático, a infância infeliz, os casos amorosos malsucedidos, a saúde sempre comprometida, culminando na doença mais cruel que poderia acometer um músico – a surdez – são elementos de sua biografia que reforçaram essa imagem ao longo dos anos.


Tal fama é completamente justificável: o próprio compositor se interessava particularmente pelo tema do heroísmo, virtude tão associada ao espírito alemão. As três peças do programa de hoje lidam, de alguma forma, com esse conceito. Leonora retrata a coragem de uma mulher que, por amor, se traveste e se arrisca para tentar tirar o amado da cadeia. O concerto contrapõe solo e tutti com maestria, estabelecendo uma narrativa de enfrentamento e superação. A Sinfonia Eroica foi inicialmente dedicada a Bonaparte, a quem Beethoven admirava profundamente. Ao saber de sua coroação como imperador, o mestre alemão, furioso, rasgou a página de rosto, substituiu a “Marcha triunfal” por uma “Marcha fúnebre” e refez a dedicatória, homenageando “a memória de um grande homem”.

 



As Aberturas operísticas representam um desafio para qualquer compositor. Têm a função de acalmar o burburinho do público, que chega ao teatro ansioso para ver e ser visto e considera a ópera não apenas um entretenimento, mas também uma ocasião social; a música também deve espicaçar a curiosidade em relação ao espetáculo, adiantando seus temas principais. Uma Abertura bem concebida atrai a atenção, inspira o desejo de ouvir mais e estabelece o ambiente tonal e psicológico da história, como uma espécie de trailer sonoro. Porém também pode ser uma armadilha: tem que engajar a atenção do ouvinte de imediato, mas sem ser mais empolgante do que a ópera. Tentando encontrar esse equilíbrio delicado, Beethoven escreveu diferentes aberturas para sua única ópera, Fidelio. Foi na quarta versão que o compositor finalmente se satisfez. Ele estava certo: a terceira, que ouviremos hoje, é completa em si mesma, e poderosa demais, quase um poema sinfônico. Apesar de extraordinária como composição, acabaria ofuscando todo o resto da ópera.


A introdução é lenta e solene, e a linha descendente, em oitavas, evoca os passos de Leonora rumo à masmorra. O allegro se insinua suavemente e cresce até se transformar em hino à liberdade e ao amor. O som do trompete vindo das coxias anuncia boas novas. As passagens virtuosísticas no final expressam júbilo pela vitória da justiça e reunião dos amantes.


Dois anos após a composição de Fidelio, Beethoven completaria seu quarto concerto para piano. A estreia pública, tendo o compositor em sua última apresentação como solista com orquestra, não foi o sucesso esperado. Várias razões contribuíram para isso. O evento se deu no inverno e a sala estava gélida; além disso, a apresentação durou quatro horas, preenchidas apenas com composições de Beethoven, entusiasmantes, porém ainda desconhecidas. A recepção relativamente morna, e a surdez progressiva de Beethoven, fizeram com que o concerto fosse arquivado durante décadas.


Normalmente concertos principiam com introdução orquestral. Mas nesse, o início é uma passagem no piano que se assemelha a um improviso. Nela já surgem os temas que serão o estofo do desenvolvimento orquestral.  No segundo movimento, a oposição entre piano plangente e cordas autoritárias reflete a luta do herói solitário contra oposição cerrada e implacável. O rondó final brinca com um tema animado, sobre discreta figura de fanfarra nas cordas. Aos poucos, os outros instrumentos são adicionados criando uma festa sonora, a que tímpanos e trompetes emprestam um toque marcial. Aqui, piano e orquestra dialogam cordialmente, como que celebrando a paz após a discórdia.


A Sinfonia Eroica foi recebida por duras críticas em sua estreia pública, em 1805. Foi tachada de interminável (era a mais longa sinfonia até então), confusa, cansativa, por ser contra as expectativas daqueles que esperavam uma obra nos moldes clássicos. Nela, são explorados motivos simples que se entrelaçam e se expandem, formando um tecido complexo e poderoso. O Allegro con brio, brilhante e destemido, com acordes bruscos e acentos deslocados, é ativo, dramático, com estrutura quase narrativa, em que a voz do personagem principal é democraticamente distribuída entre os vários naipes da orquestra.

 

Como o próprio título revela, o segundo movimento é uma marcha pesarosa e solene, que usa o ritmo lombardo para engendrar um impulso que se renova, em efeito que une estabilidade e energia latente.  O solo lastimoso do oboé se eleva sobre as cordas, até que a marcha se anima e se torna quase alegre. O retorno do tema principal nos traz de volta para a realidade da dor. Há um pêndulo que vai da mansidão à densidade, para terminar novamente em quietude, evocando um cortejo, que ao passar pelas ruas arrebanha gente e adquire força, para se dispersar ao final. O Scherzo, rápido e virtuosístico, apresenta contraste bem-vindo ao movimento anterior, com sopros brincalhões flutuando por sobre correntes de notas nas cordas. O Finale pega o mote da brincadeira, e com vários inícios “falsos” desenvolve uma série de variações primorosas sobre temas marcantes. O estilo fugato, triunfante, remete ao mesmo tempo ao passado barroco e à esperança de um futuro que traria a igualdade para as vozes dos homens.

 

Laura Rónai


Leia o ensaio "A Era de Beethoven", de Arthur Nestrovski, aqui.