GIOVANNI PIERLUIGI DA PALESTRINA [1525-94]
Missa Papae Marcelli: Excertos
KYRIE
GLORIA
CREDO
20 MIN
HEITOR VILLA-LOBOS [1887-1959]
Mottetto de G.P. da Palestrina [s/reg]
2 MIN
Prelúdios e Fugas de J.S. Bach
PRELÚDIO E FUGA Nº 8 [1932]
PRELÚDIO Nº 14 [1937]
PRELÚDIO Nº 22 [1932]
FUGA Nº 21 [S/REG]
20 MIN
Bachianas Brasileiras nº 9
[ARRANJO PARA VOZES]
10 MIN
Jogo de olhares: leituras e releituras entre passado e presente
Como em um jogo de espelhos, temos dois pilares da composição, um vocal (Palestrina) e outro instrumental (Bach), vistos por meio do espelho de outro gigante, Heitor Villa-Lobos. Como os três dialogam, coexistem e se transformam, é a viagem que faremos neste concerto.
PALESTRINA
Missa Papae Marcelli: Excertos
Giovanni Pierluigi da Palestrina foi sem dúvida uma das principais figuras da música vocal renascentista europeia. Palestrina viveu a maior parte de sua vida em Roma, desenvolvendo uma intensa atividade de compositor, cantor, mestre de capela e professor, famosíssimo e aclamado ainda em vida. Em 1551, o bispo de Palestrina, Giovanni Maria del Monte, foi eleito Papa e Palestrina tornou-se magister cantorum e magister cappellae da Cappella Giulia.
Em 1554, Palestrina publicou seu primeiro livro de missas, dedicado ao Papa Júlio III, e em 13 de janeiro de 1555 foi admitido pelo próprio pontífice entre os cantores da capela papal (os mesmos que executavam o famosíssimo Miserere de Allegri) sem pedir o consenso dos próprios cantores, que eram particularmente zelosos de seu privilégio.
Após a morte de Júlio III, Marcello Cervini assumiu o reinado por brevíssimo tempo (22 dias), e foi para ele que Palestrina escreveu a Missa Papae Marcelli. Em setembro de 1555, o novo Papa, Paulo IV, obrigou a demissão de todos os cantores casados, entre eles Palestrina.
A Missa que ouviremos hoje teve um importante papel na disputa ligada ao Concílio de Trento sobre a relação entre texto e música, era costume cantá-la durante o rito da coroação papal. Depois da Reforma Luterana, alguns bispos que participavam do Concílio de Trento pensaram em retomar o canto litúrgico à exclusiva monodia gregoriana, por meio da qual se julgava que o texto seria mais compreensível. Foi o exemplo da perfeição da Missa Papae Marcelli que convenceu o Concílio que polifonia e compreensão de texto eram conciliáveis.
VILLA-LOBOS
Mottetto de G.P. da Palestrina
Esse é o primeiro olhar de Villa ao passado. A pergunta é: É certo arranjar peças instrumentais em peças vocais. Mas por que modificar uma peça já vocal? E ainda, de um dos símbolos da perfeição vocal como Palestrina? Villa-Lobos modifica a tonalidade, acrescenta articulações, acentos e até coloca uma indicação de tempo que talvez seja quase uma indicação de caráter “andante religioso”. Villa lê o passado e o transforma.
VILLA-LOBOS
Prelúdios e Fugas de J.S. Bach
Estes prelúdios e fugas são joias retiradas da Bachiana do Cravo Bem Temperado, uma coletânea dividida em dois livros de prelúdios e fugas para instrumentos de teclas (sem distinção entre cravo, clavicórdio e órgão), em todas as 12 tonalidades, escrita entre 1722 e 1744. Cada livro contém 24 pares de peças, cada um deles consiste em um prelúdio e uma fuga na mesma tonalidade. O primeiro par é em Dó Maior, o segundo em Dó Menor, o terceiro em Dó Sustenido Maior, o quarto em Dó Sustenido Menor, e assim por diante. O esquema continua seguindo a escala cromática até completar todas as tonalidades maiores e menores. Na época de Bach, era definido “bom temperamento” qualquer sistema de afinação que permitisse tocar em todas as tonalidades, em contraste com o temperamento mesotônico de uso corrente nos séculos XVI e XVII. Os exemplos mais antigos de “bom temperamento” são os descritos pelo organista e teórico musical Andreas Werckmeister, em 1691: foi exatamente Werckmeister a cunhar o termo “Wohltemperierte Stimmung” (afinação bem temperada).
Villa-Lobos escolheu alguns desses números instrumentais e os arranjou para coro. Alguns arranjos são bastante fieis ao original, outros são autênticas releituras, em que se pode notar dois gigantes da composição que dialogam e coexistem. Esses incríveis arranjos eram parte do grande projeto de canto orfeônico, uma grande visão de musicalização de todo o país a partir das escolas. Esses arranjos não eram para os estudantes, dada a dificuldade, mas sim para os professores.
VILLA-LOBOS
Bachianas Brasileiras nº 9
Bachianas Brasileiras são uma série de nove composições de Heitor Villa-Lobos realizadas entre 1930 e 1945. Nessas obras, compostas para formações orquestrais de diversas constituições, Villa-Lobos colocou junto música popular brasileira e música clássica no estilo de Bach, com a intenção de realizar uma versão brasileira dos Concertos de Brandenburgo. É a única composição a não possuir um duplo título, mas apenas uma simples indicação formal “prelúdio e fuga” e, por indicação do próprio compositor, pode ser executada por uma orquestra de cordas ou por um coro a capella.
VALENTINA PELEGGI é Regente Titular do Coro da Osesp e
Regente em Residência da Osesp 2017-2018.
Tradução de Paulo Geiger