KENNETH LEIGHTON [1929-88]
Crucifixus Pro Nobis, Op.38: Drop, Drop, Slow Tears [1961]
4 MIN
ALFRED SCHNITTKE [1934-98]
Concerto Para Coro: Ó Mestre de Tudo o Que Vive [1984]
17 MIN
GREGORIO ALLEGRI [1582-1652]
Miserere Mei, Deus [1630~40]
12 MIN
HENRYK GÓRECKI [1933-2010]
Miserere, Op.44: Miserere Nobis [1981]
3 MIN
Totus Tuus, Op.60 [1987]
9 MIN
JOHN TAVENER [1944-2013]
Song For Athene [1997]
7 MIN
Um percurso em busca da espiritualidade
LEIGHTON
Crucifixus Pro Nobis, Op.38: Drop, Drop, Slow Tears
Este é o quarto e último excerto da cantata Crucifixus Pro Nobis, escrita em 1961 para tenor solo, coro e órgão, dedicada a David Lumsen e ao Coro do New College, Oxford. Concebida como uma evocação da Paixão de Cristo, a breve cantata termina com esse Hino (sobre texto de Phineas Fletcher [1582-1650]), como um grande coral de Bach: é a humanidade, em toda a sua complexidade, que reflete sobre a própria condição de miséria e oferece suas lágrimas a Cristo. Harmonias cromáticas escorrem como gotas em uma estrutura formal absolutamente controlada e bem acabada. Estamos longe dos experimentalismos de alguns anos antes, nem parece aquele Leighton aluno de Finzi e Petrassi: aqui os cromatismos se desfazem em líquidas e lânguidas harmonias, de uma beleza mortal e intensamente lírica.
SCHNITTKE
Concerto Para Coro: Ó Mestre de Tudo o Que Vive
Composto entre 1984 e 1985, o Concerto para Coro Misto é considerado uma das obras-primas da música coral do século XX. É inspirado no terceiro capítulo do Livro das Lamentações, do poeta e religioso armênio São Gregório de Narek [951- 1003]. Schnittke espelha em sua composição o complexo mundo interior do monge, construindo o Concerto em quatro movimentos altamente expressivos, mas muito abstratos na estrutura musical. A alternância repentina entre luzes e sombras, entre dinâmicas em fortíssimo e rupturas imprevistas que emergem do silêncio das pausas, são o retrato musical de uma constante busca de paz interior. As repetições de células temáticas brevíssimas têm aqui a função de mantra espiritual, como se ao repetir a mesma fórmula fosse possível entrar em um estado de concentração iniciática, criando uma espiral, um vórtice sonoro que a cada repetição sobe de tonalidade, como que para se elevar ao céu, e se faz mais intenso, mais forte, mais premente.
ALLEGRI
Miserere Mei, Deus
O Miserere de Allegri, baseado no salmo 50 da Bíblia, foi composto por volta de 1630, durante o pontificado de Urbano VIII, para ser executado de luzes apagadas na Capela Sistina na Semana Santa. Uma antiga tradição oral na Sistina tornava esta peça única: era considerada tão sagrada que o papa proibiu que fosse publicada. Mas Wolfgang Amadeus Mozart, então com catorze anos, em visita a Roma, escutou o Miserere em 11 de abril de 1770 e no dia seguinte transcreveu-o inteiramente de memória. A partir desse momento, foi retirada a proibição e a peça foi publicada, mas sem as ornamentações que a tornavam ainda mais especial. De fato, quando Leopoldo I de Absburgo obteve do Papa Inocêncio XI uma cópia da partitura, conseguiu apenas um simples coral. O imperador, então, acreditando que o mestre de capela da Sistina tivesse lhe enviado a cópia de outro Miserere, reclamou com o papa e o mandou expulsar. Alguns disseram que a partitura havia sido mantida secreta porque, de acordo com as pesquisas de Urbano VIII e Tommaso Campanella, continha a chamada Nota Dei (“Nota de Deus”), ou seja, a chave que, segundo os preceitos humanístico-renascentistas, permite penetrar nos mais profundos segredos da Natureza. A nota em questão é um altíssimo Dó natural, cantado pela soprano do quarteto solista por cinco vezes.
GÓRECKI
Miserere, Op.44: Miserere Nobis e Totus Tuus, Op.60
Este Miserere foi composto em 1981, sob o impacto da sangrenta repressão à manifestação de um grupo de operários pela polícia polonesa. Por causa do clima de censura que se instaurou, a obra foi executada somente em 1987. É a última das 11 seções que constituem a obra: o texto dessa última parte está escrito em maiúsculas pelo próprio autor, como que para tornar visível o pedido de perdão inserido no texto e na música, e que se dissolve no silêncio do tempo.
No mesmo ano de 1987, também foi composta e executada Totus Tuus, complementar e contrastante ao Miserere. Foi escrita por ocasião da peregrinação do Papa João Paulo II à sua nativa Polônia. Abre-se com uma majestosa invocação a Maria, cantada homofonicamente em forte, mas sempre mantendo um clima íntimo e expressivo.
TAVENER
Song For Athene
Com Song For Athene, tocante elegia para coro em 4 partes, voltamos a um compositor britânico, John Tavener. Encomendada pela BBC em 1993, foi cantada no funeral da Princesa Diana, em 6 de setembro de 1997, mas era originalmente um tributo à atriz grega Athene Hariades, morta em acidente rodoviário. Tavener a vira representar Shakespeare na Abadia de Westminster e decidiu criar um texto que combinasse a liturgia fúnebre ortodoxa com o Hamlet de Shakespeare. O resultado é um vórtice sonoro que se inicia e termina em um fio de fumaça de incenso, enquanto os baixos sustentam um longuíssimo Fá grave: é a terra que nos acolhe, longínqua e distanciada das tragédias humanas.
VALENTINA PELEGGI
é Regente Titular
do Coro da Osesp
e Regente em Residência da Osesp 2017-2018.
Tradução de Francisco Degani.