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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
25
mar 2018
domingo 19h00 Quarteto Osesp
Quarteto Osesp


Quarteto Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Ludwig van BEETHOVEN
Quarteto nº 8 em Mi Menor, Op.59 nº 2
Béla BARTÓK
Quarteto nº 4 em Dó Maior
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 122,00
  DOMINGO 25/MAR/2018 19h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]
Quarteto nº 8 em Mi Menor, Op.59 nº 2

ALLEGRO
MOLTO ADAGIO
ALLEGRETTO
FINALE: PRESTO

33 MIN

 

Publicado em 1808, este quarteto é o segundo dos três dedicados ao Príncipe Razumovsky e faz parte do chamado “segundo período” de Beethoven, um período de transição entre a linguagem clássica (tendo Mozart e, sobretudo, Haydn como modelos) e uma nova forma, precursora do romantismo.

 

O primeiro movimento, “Allegro”, possui uma ansiedade e uma agitação que nos sugerem que algo está por vir; os ouvintes são levados através de percursos perigosos e cheios de ciladas. As frequentes pausas, silêncios carregados de tensão, assim como os numerosos acentos e acordes, que interrompem o fluxo musical, são a tradução em música de uma alma inquieta, como certamente era a alma de Beethoven naqueles anos.

 

O que exatamente estava prenunciando este primeiro movimento? A resposta chega no movimento sucessivo, um “Molto Adagio”, ao início do qual o próprio Beethoven indica: “si tratta questo pezzo con molto di sentimento” [essa peça é com muito sentimento]. Uma meditação profunda e extensa sobre as grandes perguntas da existência. Segundo o aluno Czerny, autor de um livro de memórias sobre seu mestre, Beethoven teria escrito essa peça observando o céu estrelado e pensando na música das esferas celestes. Confesso que, por quanto seja sugestiva, não acredito muito nesta que parece ser mais uma frase pensada para impressionar os seus leitores do que uma situação que realmente tenha existido. Por outro lado, a sensibilidade de Czerny acertou falando do cosmo e da relação do homem com o universo, pois desde as primeiras notas este movimento nos transporta para uma outra dimensão. Pessoalmente, considero um dos pontos altos de toda a produção para quarteto do gênio de Bonn.

 

As quatro vozes, unidas em um único organismo sonoro, exploram regiões do espírito nas quais raramente homem algum ousou se aventurar. Eis exemplificado em um movimento musical o princípio da convivência entre seres humanos. Cada um com sua voz, cada um mantendo as características únicas de seu ser, mas nenhuma palavra pronunciada impede os outros de se expressar ao mesmo tempo e falando coisas diferentes. No fim, o que fica na nossa memória é a prova de que viver juntos e em paz é possível, assim como essas quatro vozes conseguem ser quatro e uma a um tempo.

 

A leveza deliciosa do terceiro movimento serve como uma ponte para um “Finale” entre os mais virtuosísticos já escritos por Beethoven. Quase um vento que queira levar para longe os temores e as profundas meditações do “Molto Adagio”, para terminar com um sorriso e um abraço para a vida.

 

BÉLA BARTÓK [1881-1945]
Quarteto Nº 4 Em Dó Maior [1928]
   ALLEGRO
   PRESTISSIMO, CON SORDINO
   NON TROPPO LENTO
   ALLEGRETTO PIZZICATO
   ALLEGRO MOLTO

23 MIN

 

O Quarteto nº 4 de Bela Bartók foi composto em 1928. É estruturado em cinco movimentos espelhados, ou seja, o primeiro tem uma estreita relação com o último e o segundo, com o quarto, permanecendo o terceiro como único movimento isolado e desligado dos demais. Nota-se nesse Quarteto a exigência de explorar novas possibilidades sonoras: efeitos como glissandi, pizzicati verticais e percussivos (depois conhecidos como “pizzicato à la Bartók”) e frequentes passagens a serem tocadas completamente sem vibrato são somente algumas ferramentas usadas por Bartók para criar novas sonoridades e novos modelos expressivos. Também nota-se uma influência de Alban Berg, cuja Suíte Lírica Bartók escutou um ano antes, ficando profundamente impressionado.

 

Se o primeiro movimento é ligado a uma dimensão terrena, quase cavando os sons abaixo da superfície, o segundo é todo sussurros e palavras jogadas ao vento, que as leva para uma dança livre e luxuriosa. É um movimento sensual que, com uma agilidade sem forma, penetra nosso ser e nos envolve perigosamente em sua dança erótica.

 

O terceiro é um tapete estático sobre o qual se levanta a voz severa do violoncelo, grande protagonista do movimento. Só o violino ousa dialogar com o autoritário som do instrumento mais grave do quarteto, criando um diálogo entre opostos, natureza angelical e demoníaca.

 

O quarto movimento é uma lembrança estilizada do segundo. Tocado inteiramente em pizzicato, lembra o vento sensual que já nos seduziu, mas é muito mais concreto. Totalmente abstrato, lembra uma pintura em música, que usa a técnica conhecida como pontilhismo.

 

Com o selvagem último movimento, voltamos firmes à terra, quase que jogando raízes em suas profundezas. É um movimento que lembra uma dança macabra, mas nunca elegante como a de Saint-Saëns e sim completamente transfigurada em um monstro que não renuncia a dançar.

 

Emmanuele Baldini